O trabalho dignifica o homem?
- Paulo Francisco da Silva Carneiro
- 24 de jul.
- 2 min de leitura

Existe uma máxima antiga que afirma: “O trabalho dignifica o homem.” Mas, neste exato momento, me pergunto se essa dignidade não tem cobrado um preço alto demais.
Estou preso a uma espiral da qual não consigo sair. Tornei-me completamente dependente do meu trabalho — emocionalmente, financeiramente, existencialmente. Faço coisas que dificilmente faria, nem mesmo por pessoas que amo profundamente. Por exemplo: agora são 6h06 da manhã. Estou acordado há quase três horas, trabalhando. Não havia nenhuma entrega urgente, nenhum incêndio para apagar. Apenas antecipei tarefas que me comprometi a concluir até o fim da semana, pois sei que meu dia será cheio.
E isso me leva a duas reflexões.
A primeira é sobre o conceito de proletário — aquele que só possui sua prole, nada mais. É nesse lugar que me reconheço. Eu não tenho capital, não tenho patrimônio. Tenho apenas minha força de trabalho. E, por isso, sou forçado a me entregar todos os dias a algo que até gosto, mas que não amo. Faço com esforço coisas que, se fossem por alguém querido, talvez eu não conseguisse fazer. Como acordar às três da manhã para adiantar um relatório que poderia ser feito mais tarde. Não fui movido por dinheiro. Fui movido pelo medo — o medo de perder o único espaço onde minha força de trabalho encontra utilidade.
A segunda reflexão é sobre alienação. Karl Marx já falava disso. Estou aqui, ainda com o céu escuro, respondendo mensagens de cliente às 5h57, dizendo "minha empresa", "meu time", "meus colaboradores", como se tudo isso realmente fosse meu. Mas não é. O único "meu", no fim das contas, é meu corpo, minha energia, minha entrega. E sei que, se um dia eu confrontar um chefe ou discordar demais do sistema, tudo isso pode deixar de me pertencer em um piscar de olhos.
E o mais curioso — ou talvez o mais incoerente — é que tenho sonhos grandes dentro dessa mesma empresa. Quero crescer, quero chegar ao topo, quero influenciar decisões. Desejo, de verdade, fazer parte do comando. Mas a vida é assim: cheia de paradoxos e contradições.
Esse é só um desabafo de antes do sol nascer. Obrigado por ler até aqui.
Até o próximo texto.
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